segunda-feira, 21 de abril de 2008

Curiosidades


Com cerca de duas dezenas de skates de características diversas, uma tenda de sobrevivência e mantimentos numa carrinha guiada por um amigo, Eduardo Abalada, residente em Cascais, partiu, na passada segunda-feira, da ponte do Rio Minho, em Viana do Castelo, com destino à ponte sobre o Guadiana, em Vila Real de Santo António, para percorrer a primeira volta a Portugal de skate. A viagem vai durar até ao dia 27 de Junho. Eduardo Abalada prevê chegar a Cascais no dia 30 de Maio.
Ao longo de mais de 1200 km, Eduardo vai percorrer os caminhos e estradas nacionais em cima de uma tábua de madeira e rodar em quatro ou duas rodas, dependendo do skate que usar. O objectivo, diz, "é a concretização de um sonho",mas também "promover este desporto e dar a conhecer o vasto tipo de skates que existem". "Por onde vou passando, possibilito que as pessoas experimentem os skates. Acho que vou encontrar muitos curiosos, assim como paisagens lindíssimas e lugares óptimos em Portugal, que ainda não foram explorados, para a prática deste desporto", acrescenta. Praticante de desportos radicais, Eduardo Abalada, com 33 anos, adoptou há muito o Long Skate (skate de prancha mais cumprida) como estilo de vida. É uma modalidade de estrada e não de pistas ou rampas, que começou a ser usada por surfistas, nos anos 60, na Califórnia, sempre que não havia ondas. Quando se pergunta há quanto tempo anda de skate, refere que "desde miúdo, mas não me lembro bem. Comecei por descer a estrada do parque de campismo do Guincho, porque era a mais acentuada".Depois, "as estradas foram melhorando e foram criadas outras condições, como é o caso da ciclovia ou da serra de Sintra". Neste momento, dedica-se à divulgação desta modalidade, que concilia o Surf, o Kitesurf, o Snowboard e o Wakeboard. A ideia da volta a Portugal surgiu após ter conhecimento que países como Inglaterra e Austrália já foram percorridos em cima de um skate. Depois de conversas com amigos, a aventura nunca mais lhe saiu da cabeça. Apesar de ter assistido à desistência de outros parceiros. Equipado dos pés à cabeça, na "bagagem" leva 20 tipos de skates, desde o normal com rodas de uretano para alcatrão liso, até pranchas mais largas com rodas insufláveis para pisos irregulares. "As rodas que vou usar podem variar desde os 65 milímetros até à roda 16, igual à de uma bicicleta de criança", enuncia. A segurança, sublinha, "não é para ser deixada em segundo plano. Vou levar protecções porque vou apanhar grandes descidas .Levo luvas, protecções de pulso, lombares, capacetes, joelheiras e cotoveleiras". O Long Skate é uma prática de grande velocidade. Curvas rápidas, slides, onde as travagens se fazem por derrapagens, usando muitas vezes a ponta do pé para travar ou a saída brusca do skate. Eduardo mostra-se cauteloso. "Não vou fazer grandes manobras perigosas. Pretendo fazer um percurso com cautela para chegar ao fim sem qualquer tipo de lesão", garante.
Mas a viagem não consiste só em descidas. O aventureiro tem consciência disso. "Vou usar os skates como se tivesse uma bicicleta. Nas subidas vou percorrer o caminho a pé. Essas situações foram ponderadas no itinerário", revela Eduardo Abalada. "Este é um projecto que já queria concretizar há muito tempo, mas que só agora é possível", refere o praticante de skate, que frisa que "já ando a preparar a viagem há ano e meio". Habituado a "dar ao pé" e percorrer grandes distâncias, a preparação física tem sido uma preocupação. "Tive a ajuda de um médico que revelou algumas indicações para me proteger das lesões musculares e cãibras. Tenho corrido na praia aos finais de tarde, faço exercícios de alongamento muscular, natação, bicicleta, surf e muito skate", salienta Eduardo. De acordo com o seu projecto, pretende fazer "cerca de 25 km por dia, o equivalente a seis horas, depende do terreno. Se for a descer, será certamente mais rápido". Eduardo considera que "as maiores dificuldades vão ser as primeiras duas semanas. Porque, apesar de meter preparado, vai ser complicado tanto a nível físico, como mental. Mas, depois dessa adaptação, penso que tudo será ultrapassado com as paisagens, as descidas e o contacto com as pessoas que estiverem interessadas em conhecer mais esta modalidade". Núcleos de skate nas diversas regiões do país já manifestaram a intenção de o receber com animação. É o caso do Skate Clube de Ovar e da Praia de Mira. Em Cascais, prevê chegar no dia 30 de Maio. "O primeiro dia vou estar no Skate Parque de Alcabideche e depois em Carcavelos", revela. Os fins-de-semana são para descansar: "Vou permanecer na localidade onde chego. A
viagem será feita pelo litoral, o que me permite também refrescar nas praias". O percurso será documentado e filmado pelo condutor da carrinha. Depois de uma produção, a primeira viagem a Portugal de skate vai poder ser vista em DVD. "No final da viagem a Portugal, espero que tenha conseguido captar novos praticantes, bem como sensibilizar as entidades para este desporto, que noutros países já está muito desenvolvido e integrado socialmente". Em Cascais, "o Long Skate costuma ser utilizado por surfistas, sempre que não há ondas. Mas podia muito bem ser praticado por qualquer pessoa. Deveria haver mais respeito e consideração por esta modalidade, assim como já existe com o ciclismo de lazer e os patins em linha", conclui Eduardo Abalada. Texto retirado do Jornal da Região Cascais nº 79 Autor do texto Francisco Lourenço Data do artigo: 02/05/2007.
Relatos de Eduardo Abalada
Esta aventura, como de resto todas as aventuras, reveste-se, especialmente nas duas primeiras semanas, de contornos difíceis e gabardines, mas acima de tudo de uma perseverança maior que as dificuldades. As primeiras duas semanas levam-nos pelos caminhos molhados do norte português. Moledo, Vila Chã e Angeiras ficam-nos no coração. Poucos apoios temos: contamos com o serviço da Zapp telecomunicações que nos disponibiliza o serviço de Internet móvel com que actualizamos o blog diário, e a cobertura do Ripa, semanário desportivo, que segue a viagem desde o primeiro passo, desde a partida em Belém, de onde um dia partiram as caravelas para outras viagens. De resto, os apoios são as costumeiras e humildes injecções de capital familiares. Ainda que sem apoios não nos passa pela cabeça desistir! Que o primeiro ano é à experiência, sabemo-lo. É no norte que encontramos os preços mais baixos e os caracteres mais acessíveis. A curiosidade das gentes do norte lembra-nos o conforto de casa. Aqui, talvez pela dificuldade com que os jovens saem da sua terra pela primeira vez, a curiosidade e a vontade de experimentar coisas novas trá-los até nós com a coragem para se meterem em cima dos cerca de vinte skates com que andamos na carrinha. É no norte que deixamos os melhores amigos que fizemos durante a volta e o enrolado da pronúncia deixa-nos saudades. S. Pedro de Moel e linguados grelhados com batatas cozidas, conversas que se prolongam noite dentro com a naturalidade dos locais. Vamos descendo país abaixo com a linha do mar à direita e à medida que nos vamos aproximando do centro do país, as gentes vão-se tornando cada vez mais desinteressadas, mais metidas consigo mesmo. Mas é do centro que somos, e é no centro que estão os amigos e a familiaridade com as estradas traz-nos companhia durante as etapas. De Sintra a Cascais a etapa é feita pela primeira vez com um grupo de cerca de dez amigos. Em Lisboa anda-se, naturalmente e porque o trânsito é, como em nenhuma outra parte do litoral português, demoníaco, com o skate às costas. Mas chegados à Costa de Caparica abre-se a antecipação do Alentejo e o adivinhar de novo descanso. De Tróia à Galé um deserto (aqui sim um deserto!). Mas na Galé ouve-se já um certo sotaque sacudido que culmina na Zambujeira do Mar com o alentejano sofisticado do linguajar dos jovens e um repleto de gerúndios dos velhotes ainda sentados aos grupos em banquinhos no meio da praça. E se no Norte nos fustigava a chuva e o frio, chegamos ao Sul com o Verão e com o apertar do calor. Faltam menos de duas semanas para o fim. Fizemos a volta por nossa conta e risco, com algumas (poucas) implicâncias por parte da autoridade, mas um sentimento de antecipação e dever cumprido. E pensamos já na volta de 2008! Porque sentimos que cumprimos os objectivos a que nos propusemos: divulgámos o longskate, descobrimos excelentes locais e novos potenciais praticantes, e acima de tudo pugnámos por um estilo de vida saudável e dinâmico, livre dos vícios e consciente da preciosidade da liberdade. E é por estes objectivos que continuaremos a lutar, agora com mais clareza de espírito e a experiência de dois meses na estrada feita. Novos parceiros, que entendam o interesse da iniciativa, procuram-se.